A mulher, mais que o homem, sempre foi muito reservada, então não podiam deixar uma notícia dessa virar manchete de fofoca na boca da maldita vizinha velha e enrugada do condomínio. Ela decidiu que a desculpa seria passar o final de semana em um hotel beira mar, enquanto o real destino era mesmo um motelzão chique e cheio de apetrechos na periferia da cidade. A realidade da vida do casal levou à esse destino... afinal, para ela, ele tinha sido o único, e ela também para ele – nos últimos 30 anos, pelo menos... e todo esse tempo faltou muita variedade. Era toda vez o básico papai e mamãe, e no máximo algumas vezes uma variada de um lado ou de outro, então, para se garantir, ele comprou alguns itens numa loja especializada.
No dia, parecia que nenhum dos convidados queria ir embora! Não paravam de beber à custa do casal, e eles não paravam de pensar no que viria depois, sem convidados, claro. Com a desculpa de não querer viajar muito cansado, partiram para “praia”. Qual o nome da praia que eles iam mesmo? Ah! Laguna Beach Motel... não estavam mentido completamente certo?
Chegaram lá e ele já não entendeu porque não tinha recepção, nem lobby, nem nada. Como assim me atender pela janela do carro? Ele leu algumas críticas tão boas sobre aquele lugar na internet e o atendimento já começava assim? Tudo bem. Pegaram a tal Suite Master Mega Power Plus + +. Pelo nome, parecia boa... e de fato era. Ela em toda sua sensibilidade percebeu o bom gosto da decoração, e apreciou a cor da parede. Ele achou que a cama era ótima, “poderia dormir um mês inteiro aqui”, pensou, e logo disse:
- Então meu amor... que tal uma bebidinha para relaxar? – segurando uma champagne encostado na parede fazendo pose de galã. Ela não era muito de beber, mas um momento especial não podia pedir por menos. E acho que foi aqui que a coisa começou a desandar... ele nunca tinha aberto uma garrafa de champagne, mas quão difícil poderia isso ser, certo? Quantas vezes ele viu abrirem nas novelas? Era só dar uma mexidinha, desatarraxar o arame que prendia a rolha e puxar. É... foi quase isso. Pena que a mexidinha foi um pouco demais e a pressão arrebatou a rolha na sobrancelha da mulher. Ainda bem que ela estava sentada na cama, senão o tombo iria machucar ainda mais... mas tudo certo, tinha gelo no quarto, e ele já colocou numa toalha e apoiou na rosto dela. Estava tudo sob controle. Passada a tontura, partiram para a execução do plano:
- E então meu amorzinho, quais as surpresas que você comprou pra essa noite? – toda sedutora ela perguntou deitada na cama, de vestido vermelho, passando a mao no lençol, e, tirando a protuberância roxa que tinha na testa, estava realmente atraente. Mulheres tem esse dom.
- Tenho aqui um óleo para massagem... – dizia ele enquanto tirava cada item na bolsa, como propaganda de TV, e esperava pela reação dela, que normalmente era:
- huuum...
- sais de banho para relaxar na banheira...
- huuuuum... que delícia...
- uma pomadinha chinesa para aquecer a ação...
- uuu, essa eu vou querer experimentar...
- e um livrinho pra gente seguir e tentar algo diferente. (entenda-se uma cópia do Kama-sutra que um colega do trabalho recomendou e disse que era uma loucura.
- aah, agora assim vamos comemorar.
Então, foram por tudo em prática. Ela foi tomar uma ducha rápida, habito tradicional da parte dela, e ele já ligou a água da hidromassagem. Uma aguinha quente é sempre reconfortante. Ele pensou em juntar-se ao banho, mas ela não achou uma idéia esperta porque na sua opinião só cabia um embaixo do chuveiro, e saiu esperar o banho dele na cama. Saindo do banheiro ele passa a mão no óleo:
- deite aqui querida, vou te tratar como rainha hoje.
Já no começo da massagem, enquanto ele subia ao ombro direito ele se assusta:
- AAAI! Amooor, ai não, aaai minha bursite... quer me matar?
- desculpa docinho, esqueci disso...
- Ai.. tudo bem.. mas sabe, vamos pular a massagem, está realmente doendo.. que tal uma banheira?
Meio desolado e sem jeito ele concordou. A massagem não surtiu efeito... passou a mão nos sais de banho, despejou um pouco na água e quando foram entrar:
- AAH! CARA*** ! essa água está fervendo!!! Me queimei! – urrou ele pulando numa perna só no meio do quarto.
- haha, coração, você abriu só a torneira quente! É por isso! Tenta misturar uma água fria. – mulheres, sempre geniais...
- mas a banheira está cheia, não cabe mais água.
- amor, por favor né! É só esvaziar um pouco, e colocar água fria – mais um lance de genialidade.
- tudo bem querida, tira a tampa ali então para escoar a água. – homens... sempre sádicos.
- AAAH! Ta quente pra cara*** essa água! – gritou ela tirando o braço vermeeelho de dentro da água.
- ah, você acha? – ironicamente, ele conseguiu irritá-la.
- tudo bem então... vamos esperar a água esfriar um pouco.
A tensão estava começando a aumentar. Até agora nem mesmo o champagne tinha sido como ele imaginou, muito menos ela... mas puxando o “livrinho”, em meio a carícias, foram folheando e escolhendo qual seria dessa vez.
- nossa, como tem gente criativa, não é mesmo, querido?
- sim, bom, mas eu acho que nem todas aqui são de verdade...
- como assim? – inocência de menina.
- querida... olha isso, como você acha q eu vou ficar nessa posição? Minha hérnia me mata se eu curvar assim. Que tal essa?
- o que? Sem chance, isso eu não faço... – valeu a tentativa por parte dele...
Sei que ao final do livro, nenhuma delas parecia que a coisa ia encaixar na coisa, se é que fui claro o suficiente... então, para quem nunca fez nada de diferente, qualquer mudança já era progresso:
- vamos fazer essa aqui então! – ela pediu.
- assim? De quatro? Tudo bem! – parecia que os dois concordaram em algo.
Ele lembrou da tal pomadinha chinesa, elogiou a sagacidade oriental, e delicadamente aplicou um tanto nela. Um tanto demais, sinto dizer... o calor foi tanto que ela começou a se abanar, e o único jeito foi correr para o chuveiro jogar uma água fria.
E ele, infeliz como um cão faminto, viu que a noite estava indo por água a baixo, junto com a grana que já tinha investido na empreitada. Tendo certeza disso quando ela volta puta da cara do banheiro:
- O é que isso Ricardo! Ta querendo me assar? Que idéia mais besta!
- querida, eu só achei que ia ser diferente!
- diferente? Quer algo diferente?
- ah não... não comece com essa conversa...
- quer algo tão diferente quando a Maria é?? – Maria... a vizinha turbinada do andar de baixo que sempre atraia olhares quando colocava a minissaia branca...
- toda vez com essa historia? Já falei que eu não estava olhando!
- não né? A bunda dela que estava olhando para seus olhos então?!
Aqui começou a briga... levou pelo menos meia hora até pararem com a discussão. Mas o clima já era, e eles nem mesmo pareciam lembrar porque estavam lá. Cada um do seu lado da cama, de boca fechada. Seguindo o costume, ele pegou o controle remoto da televisão e resolveu ver o que estava passando. Claro... isso mesmo. Num motel? Ligou direto num canal pornô.
- seu filho da mãe! Tem coragem ainda de ficar assistindo isso do meu lado!
Os tapas que ele levou arderam. Só não arderam tanto quando a conta do cartão de credito na manhã seguinte, quando cobraram, além do quarto, a champagne, a cerveja (dele), a coca diet (dela), e as 5 barras de chocolate (preciso dizer de quem?). E tudo sem nem mesmo terem feito algo que valesse a pena todo o dinheiro...
A parte mais incrível da história foi o dia seguinte, no café da manhã, ela passava manteiga no pão e disse:
- sabe amor... eu na verdade gostei de ontem a noite!
E ele sucumbindo ao sorriso radiante de sua esposa, apenas concordou:
- eu também gostei! Foi diferente...
- DIFERENTE!!!?!!???
Bom... no fim, tudo volta ao normal, e com certeza, eles tentaria novamente... talvez no próximo aniversario de casamento...