quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Personagens num bar

São vários, os boêmios. Cada um tem seu tipo, mas são todos iguais. Iguais pelo menos no amor pela noite, na companhia da cachaça, nos jogos de azar e na divisão da fumaça. Todo boteco tem um dono, também quase sempre um patuscão, que conhece bem a freguesia e lida à força, e não com educação. Sempre tem um dormindo na mesa de canto, enquanto outro lhe tira a carteira, com a maior cara de santo. Ele dorme pois não agüenta mais o gole, não tem mais dinheiro, nem mais jeito de alimentar sua prole. Enquanto um galã xaveca uma mulher honesta, outro, cambaleando, é tirado pela porta. Para ele acabou a festa. Quem sabe beber, sabe, quem não sabe, não se comporta. E é por isso que aquele dorme. É por isso que quem der bobeira some. Metade não paga a conta, outra metade faz o que pode, e é só a terceira metade que realmente consegue patrocinar o pagode. Mulheres vão à caça vestidas de carneiro, e o lobo sai pagando por tudo, todo faceiro. O artista do submundo se expressa, mas sem aplausos, só é musica de fundo. A cada nota torta do violão uma palavra grossa de mais alguém que foi ao chão. Um sobe sobre a mesa e leva um tapa. Já é de manhã e alguém sai à comprar pão, outro acaba cerveja, mas é cedo, e pede outra lata. Três amigos conversam, dois amigos apostam, um sozinho fica de olho, e dois inimigos se arriscam. Garrafada pra todo lado. Fim da noite com briga. Fim da noite, nossa amiga. Quebram uma mesa, e os copos são vários. Um puxa o gatilho, e corpos, esses também são vários...