São vários, os boêmios. Cada um tem seu tipo, mas são todos iguais. Iguais pelo menos no amor pela noite, na companhia da cachaça, nos jogos de azar e na divisão da fumaça. Todo boteco tem um dono, também quase sempre um patuscão, que conhece bem a freguesia e lida à força, e não com educação. Sempre tem um dormindo na mesa de canto, enquanto outro lhe tira a carteira, com a maior cara de santo. Ele dorme pois não agüenta mais o gole, não tem mais dinheiro, nem mais jeito de alimentar sua prole. Enquanto um galã xaveca uma mulher honesta, outro, cambaleando, é tirado pela porta. Para ele acabou a festa. Quem sabe beber, sabe, quem não sabe, não se comporta. E é por isso que aquele dorme. É por isso que quem der bobeira some. Metade não paga a conta, outra metade faz o que pode, e é só a terceira metade que realmente consegue patrocinar o pagode. Mulheres vão à caça vestidas de carneiro, e o lobo sai pagando por tudo, todo faceiro. O artista do submundo se expressa, mas sem aplausos, só é musica de fundo. A cada nota torta do violão uma palavra grossa de mais alguém que foi ao chão. Um sobe sobre a mesa e leva um tapa. Já é de manhã e alguém sai à comprar pão, outro acaba cerveja, mas é cedo, e pede outra lata. Três amigos conversam, dois amigos apostam, um sozinho fica de olho, e dois inimigos se arriscam. Garrafada pra todo lado. Fim da noite com briga. Fim da noite, nossa amiga. Quebram uma mesa, e os copos são vários. Um puxa o gatilho, e corpos, esses também são vários...