terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

E assim, Tadeu...

Ele:

- Vai querida, respira, comigo, vamos!

Ela:

- AHHHH, que doooor, assim eu não agüento, não quero mais, eu não consigo!

- Não pode ser assim, “agora não brinco mais”, agora não tem jeito.

- Dói muito! Não dá! Não vai passar!

- Meu amor, você consegue sim, empurra, comigo, no três; Um.

- Fácil falar né seu inútil, ta aí só olhando.

- Dois...

- Pare de contar seu bosta, não está ajudando!

- Três! Empurra!

- Vou te empurrar pra fora dessa sala! O obstetra nem chegou ainda!

- Amor, eu to nervoso, ok?

- Eu estou com um ser vindo de dentro de mim me rasgando de baixo pra cima, e o senhor está nevosinho? Aff, por favor... AAAAAHHH!

- O que? O que foi?

- Essas contrações são de matar – ela ofegando fortemente.

- Tem algo que eu possa fazer para ajudar?

- CALA A BOCA E CHAMA A ENFERMEIRA!

- Nossa... então é assim... depois reclama que eu não colaboro...

- Aaaaaaaaaaaiiiiii!!! Meu Deus, o que é isso?! ai ai ai ai... ta vindo, chama lá, CHAMA LÁ PORRA!!!!

- Uau, nunca vi você falando assim enh... o que uma barriguinha não faz...

- AAAAAAAAAAAHHHH!!

- Ta bom, ta bom, pelo jeito está doendo, já entendi, saquei, não sou tão tapado assim só porque sou homem, tá? Vou lá chamar...

Um Doutor correndo no corredor com cheiro de malte e olhos baixos:

- Sim, o que foi? Hic (soluço).

Ele:

- Doutor, minha mulher está tendo um bebê, acho que está vindo, precisamos do senhor.

- Senhor está no céu meu filho, hic, eu to aqui no chão mesmo e meu horário já terminou, hic, até mais...

- Mas eu não sei o que fazer! Ela está lá gritando de dor.

- Hic, todas gritam... hic... é só o que sabem fazer. A minha mulher estava gritando comigo agora mesmo no telefone.

- DOUTOR! Estou falando sério, ela está em trabalho de parto!

- Hic, sim, sim, elas são um parto... quer um trago? Hic – virando mais um gole.

- Não, obrigado.

- É 12 anos... vai te relaxar... hic....

- Sério? Aceito então! – ele toma um trago.

15 minutos e várias doses depois... ele, entrando na sala:

- Amoooor, hic, olha quem eu achei no corredooooor! Dr. Roberto! O cara é muuuito gente fina.

- Ricardo, você está BÊBADO, seu desgraçado?!

- Nããão, claro que não, amor... hic... – ele virá para o médico e diz sussurrando, porém em voz alta:

- Ixi doutor, acho que ela sacou... hic...

- É filho, essa sua aí é esperta... mas sabe, você é um cara da paz, te considero muito!

- Ôô doutor, eu também! Temos que marcar um bar aí um dia, de repente jogar um futebolzinho...

Ela interrompe:

- ALOOOOU! Eu to tendo um filho aqui!!! Dá licença?? AAAAH!

- Ah, sim, claro, filho, chame a enfermeira ruiva ali para mim, sim?

- Hic, ruiva?

- Sim, a loira é cheia de não me toque, hic. – o médico vira para a mamãe - Então Sra., parece que vamos ter uma criança aqui! Hic...

Entre contratempos e soluços, a criança vem à luz, e a mãe suada e exaurida a recebe no colo:

- Ai meu Deus, obrigado, ele é tão lindo! Ainda bem que não parece com o pai!

- Como assim querida? Deixe-me ver, hic. Ah, mas é bonitinho mesmo, não é?

- BONITINHO???

- Quero dizer, é a coisa mais linda que, hic, eu já vi! Viu aqui doutor? Meu piazão? Esse aqui vai ser pegador! Ó o tamanho da ferramenta aqui! Puxou o pai!

- Ricardo, cala a boca... como assim “coisa” mais linda? Seu inútil. E se puxar essa merreca aí, é melhor ser rico, senão aí sim vai acabar que nem o pai...

- Ei, não precisa, hic, ofender não...

Indignada com a situação e espumando de raiva ela decide:

- Eu vou escolher o nome!

- Ei, mas a gente já não tinha escolhido Carlos? Carlos é uma boa, hic, não é “dóc”?

Doutor:

- Sim, eu gosto...

Ela:

- Não, você escolheu Carlos, eu quero Lucas.

- Aaah não, querida, nome bíblico não...

- Por que, qual o problema?

- Não quero, não gosto, não vou chamar, você vai chamar, hic, sozinha. Só você...

- Então será Rafael!

- Ah amor, mas aí quando ele for pequenininho vão ficar falando, hic, Rafael cara de pastel, crianças odeiam isso, você sabe.

- Ah, mas que coisa mais besta, Ricardo!

- Não querida, eu não vou chamar de Rafael. Hic...

13 nomes depois, discussão e mais uns soluços ébrios. Ela se cansa:

- Tá, deu então! Pra mim chega. Depois a gente vê isso, quando você estiver sóbrio.

- Tá, deu?

- Isso, chega!

- Tadeu é bom.

- Chega Ricardo, quero acabar a discussão.

- Não, não, querida, Tadeu é um bom nome, meu tio avô era Tadeu, eu gostava muito dele, ele me dava uns biscoitos que...

- O quê? Do que você está falando?

- Ueh, você não sugeriu Tadeu? Eu gostei, fica esse.

- Hã?

- Você acabou de falar, mulher! “Tadeu e chega”.

- Meu Senhor, Ricardo, como você é IMBECIL! Mas... sabe... gostei de Tadeu! =D


E assim, Tadeu...