sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sobre um Sonho

Eu tive um sonho, e dele não quis acordar. Mas acordei. E é aí que reside toda minha frustração. Não no sonhar, mas no despertar. Assim como não lhe faz mal a vivência, mas a impotência que nos recolhe ver ela passar. Aquele tempo todo e aquela vida que construí, todo aquele futuro sobre meu passado, eu vi. Ela sorria, e o meu tempo não passava. Ela acordava e ao vê-la, encontrava tudo que esperava. Anos foram na terra de Morfeu, enquanto só uma noite se esticava pelo meu relógio. Lembro como um sonho bom. E como todo bom sonho, a cada segundo desse alvorecer, menos lembro, e mais espaços brancos se somam à essa imagem dessa vida que tive. Ou que não tive. Sem abrir os olhos, busco remontar a foto, tento emoldurá-la na memória. Mas cada esforço se mostra em vão, enquanto cada olhar se desfaz, e cada beijo seca. Vejo-me dentro daquele retrato que derrete, e busco por ela. Aquela que deu a tudo o sentido que nunca encontrei. Como num corredor que nunca acaba, quanto mais eu corro, mais longe ela fica. O chão se abre e pareço cair dentro do nada. Não muito diferente do que foi realmente. Não muito diferente do que vi em minha mente. Mas assim “os sonhos cedem ante a impressão de um novo dia, da mesma forma que o brilho das estrelas cede à luz do sol.” E nessa manhã a luz me ofusca e apaga cada fragmento onírico que possa remanescer dentro de mim. De tudo que sei que sonhei. Lembro apenas de um momento. Lembro dos cabelos loiros refletindo a luz das chamas. Espalhados sobre meu peito. Sinto ainda o cheiro de jasmim e da vontade mútua do encontro. Os dedos entrelaçados e os olhos fechados. As velas iluminavam o quarto, e as pétalas brancas cobriam cada espaço. O resto todo não vejo. E o melhor é saber que lá o impossível aconteceu. Por isso quero voltar a dormir. Pois nada se pode cogitar de tão despropositado, de tão confuso ou surreal que não possamos sonhar. Sei que não é impossível, porque aconteceu uma vez. Mas o sonho bom acabou, e eu quero voltar a dormir. Só dormir... por mais cinco minutinhos...