Chegou na estação de ônibus um senhor velho e pobre, todo maltrapilho, evidentemente abatido pela vida e pela idade. Ele se sentou , puxou do bolso um pequeno pote de pílulas e umas moedas que se pos a contar, quando, com uma voz alta, rouca e grave, como de todo ébrio habitual, falou com um cara lendo jornal.
- Ola senhor!!
- Bom dia... - respondeu o sujeito pelo canto da boca.
- Sabe - continuou o velho - eu gosto de reclamar, mas hoje não quero, ninguém vai querer me ouvir.
O sujeito andrajoso parecia já ser figurinha pela estação, pois o cara do jornal não demonstrou nenhuma reação pela presença do senhor, e retrucou:
- Eu vi o senhor a ultima vez na Robson St.
- Ah sim, eu estava lá, eu me lembro de você, sim senhor, me lembro sim.
- O Italiano estava te expulsando do restaurante...
- Quem?
- O Italiano!
- O que tem o Italiano?
- Ele te tirou para fora do restaurante, na Robson St.
- Me tirou? Eu não sei... Eu não sei se ele fez isso... eu fiz alguma coisa errada?
- Eu definitivamente não sei...
- Não!! Eu não fiz nada de errado!
- ...
- Mas digo-lhe uma coisa, senhor! Não vejo mais uma vida feliz para mim, não... e essa chuva agora... eu não gosto de chuva sabe, mas também não gosto de sol!
O cara do jornal já nem escutava mais, pois uma manchete da quinta pagina chamou sua atenção, uma rua havia sido bloqueada por um grande deslizamento.
Todos subiram a bordo quando o ônibus chegou, e o senhor arranjou mais alguém para lhe ouvir, sentou-se ao lado de uma mulher, que desta vez lhe deu ouvidos.
E no fundo, e isso que todos querem, um pouco de atenção, pois quando chegou a sua estação o senhor apenas agradeceu e foi embora, pois pelo jeito ele e uma boa pessoa, com gestos rudes, mas que só queria atenção...