Esses dias conversava com alguns colegas, e, quando falamos em música, cada um expôs as suas preferências, seus cantores e bandas preferidos. Surgiram divergências, aparecendo o Rock, o Reggae, o Forró, o Pagode, entre outros gêneros, mas quando disse que gostava mesmo era quando tocava um MBP, uma Bossa, fiquei surpreso. Disseram, com ar apático e de deboche, que eu era “do tipo cult”. Como assim?!
Isso me levou a pensar sobre o motivo desse rótulo, bem comum, àqueles que apreciam esses estilos musicais mais “antigos”.
A MPB, Música Popular Brasileira, surgiu na década de 1960, foi uma nova maneira de se tocar o ritmo gostoso do Samba. Ela é resultado da segunda geração da Bossa Nova, gênero com grande influencia do Jazz da América do Norte. Um jeito agradável e com um maravilhoso compasso, bem ritmado, que espalha um bem estar a todos os seus ouvintes.
O brasileiro que nunca, ao menos, ouviu falar de grandes compositores que fizeram a historia do gênero musical, como Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Toquinho, Elis Regina, Chico Buarque, e muitos outros, não pode dizer que é brasileiro mesmo. Foram essas grandes mentes que colocaram no mundo um novo modo de fazer poesia, e uma nova face ao Brasil.
Com a popularização da televisão os Festivais de Musica Popular Brasileira ficaram na lembrança de todos que presenciaram. Foi uma nova forma de expressão que permitia driblar a censura em épocas de repressão política.
Que MPB é música, de altíssima qualidade, e é puramente brasileira, não temos dúvida. Mas ela é realmente popular hoje em dia?
Popular é aquilo que o povo gosta, que o povo escuta, que a maior parte da população tem em seu cotidiano. E há algumas décadas atrás com certeza a MPB que conhecemos era popular, estava em todos os lugares, em todas as bocas e em todos os bares. Por isso era popular e por isso brasileira.
Hoje MPB se tornou a nomenclatura de um estilo de música que, infelizmente, não se produz mais da mesma maneira. Temos hoje outras excelentes produções musicais que estão no atual contexto social e são atualmente populares.
O que aconteceu com o fim da produção massiva desse gênero foi um empobrecimento da cultura musical brasileira. Uma invasão americana, com o Rock e a Disco Music que era a sensação nas danceterias da década de 80.
Estamos, agora, num cenário onde música é dinheiro, e vai tocar quem pagar mais. As músicas se tornaram uma mercadoria, um produto, vendido e produzido de forma industrial. Chamamos de Industria da Música. Algum tempo atrás a música tinha um motivo, tinha uma razão de luta, era social, era política e era natural. Hoje o foco das gravadoras é o dinheiro. Gravam e gravam sem parar pra ter o que vender, para ter como lucrar. Isso desqualifica e acaba com as músicas e, conseqüentemente, com os gêneros.
Como o que vem de fora tem um grande capital de investimento, estamos sofrendo uma enorme invasão musical, porque o que produzimos aqui não está sendo suficiente. Ligo o rádio e escuto apresentadores narrando em português, mas o que toca é estrangeiro.
Parem para ouvir o que toca no rádio de vocês, chega de só escutar. Qual tipo de mãe gostaria da sua filha de dez ou doze anos dançando Funk e escutando aquelas letras de péssimo gosto e extremo baixo calão? Eu mesmo me assustei e fiquei encabulado perto de uma música esses dias. Tudo bem que o “batidão” agita, mas o que estamos construindo na cabeça de nossas crianças com esse tipo de música?
Eu não sou músico, nem compositor, mas sou ouvinte, assim como você, caro leitor. Somos nós que fazemos as platéias, os públicos e as audiências dos nossos artistas. Somos nós, o povo, que recebe tudo que as gravadoras insistem em tocar vinte vezes por dia numa mesma rádio porque a produtora pagou caro para que lá estivesse. Vamos ter dignidade e cobrar produções mais estruturadas e trabalhadas, e também dar valor ao que é nosso, vamos segurar esse tsunami de álbuns estrangeiros.
E por favor, façamos a nossa música tocar no exterior, como já fizemos décadas atrás. Pois se quem escuta o MPB, o Samba e a Bossa Nova que o Brasil criou é culto, vamos fazer o país mais culto e mais exigente. Vamos clamar por qualidade! Escutar o que é nosso é cultura, e constrói respeito à pátria e mentes mais saldáveis.