quinta-feira, 11 de novembro de 2010

100 anos?

E assim, mais gente rasga a fita de chegada da corrida centenária. Eu não quero isso pra mim. Hoje eu descobri que o Paraná é o país com o maior número de cidadãos que passaram dos cem anos. Previamente já são mais de 727, só aqui. Estamos ainda em oitavo lugar no país, e somando todos os ultra idosos, são 17 mil pessoas. Imagine quantos anos de vida isso soma! Daqui a pouco ficam pra trás as tartarugas! São mais de um milhão e setecentos mil anos vividos! Milhares de pessoas que cresceram sabendo do mundo através do rádio e carregando lamparinas. Incontáveis experiências e situações. Vidas iniciadas e findas. Histórias e estórias. Sonhos conquistados e quebrados. Vários corações. Esses também quebrados... Temos hoje uma expectativa de vida de 77 anos às mulheres e 69 para os homens. Ainda bem que sou homem. E ainda me assusta onde isso pode chegar. Se há vinte anos os 7 palmos de terra cobriam os “sessentenários”, e agora esses chegam nos 80 com facilidade, quem me diz até quando eu vou viver? Tenho medo de ficar na espera por 90 anos. No fundo, a vida é uma grande fila de espera. E enquanto isso a gente faz o que faz, ao invés de ler uma revista. Sem pensar nas conseqüências financeiras e sociais para o bem público em vidas assim tão duradouras, eu me preocupo com a distância da minha jornada, pois andar demais cansa. Fato é: sofrimento é inerente à velhice. Aqui cito José de Alencar em momento iluminado quando diz que “A vida é luta renhida, que aos fracos abate, e aos fortes só faz exaltar”. Então que me abata sem exaltação! Louro nenhum provém de ter 90 anos “mas estar bem fortinho – ele até anda pra lá e pra cá, ora vejam só!.” Prezo pela juventude, e a beleza não está na idade. Anos trazem experiência, e tentem me provar o contrario, por favor. A vida vale enquanto podemos produzir ou ajudar quem precisa. Bom seria viver enquanto a saúde me acompanhar e vigor me carregar, e deixar tudo pra trás durante o sono da tarde, de barriga cheia do almoço, deitado numa rede ao balanço do vento. Se possível sonhando e sorrindo. Lembrando de quando eu subia escadas sem ter que parar, atrás de moças com peles lisas como pêssego. Não gosto de uva passa. É amargo. Viver é amargo. Vivemos em busca da felicidade, certo? Isso porque não estamos nela, senão não precisaríamos caçá-la. Vida é busca por algo que até vem, mas nunca fica. Não pensem em mim como um infeliz. Amo a vida, e vejo maravilhas em todos os cantos. Mas não posso ficar sem dignidade. Então se eu chegar a dar trabalho e olhares expressarem pena de mim, chame a dona da foice, porque nunca gostei de hora extra, e não quero cumpri-las nesse expediente.


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