Uma dualidade. Assim como a tristeza é inerente à
felicidade. Forças complementares. Cargas opostas que fazem pares. A prosperidade
só existe por prestígio de prévia agonia, e ser triste quer dizer que você já foi
feliz um dia.
A existência é fragosa e prodigiosa; é exceção à regra; é o
ponto alto de uma parábola em queda livre; é apenas a contínua prostração que
resulta em fim. Essas são palavras de um Fulano de Tal.
Mas o que é vida, afinal?
Não querer ser triste é negar à si mesmo futura alacridade. Por
outro lado, assumir a ventura é encarar de peito aberto o abismo sob o próximo
passo. Isso porque de lá você não passa. Isso porque por lá, tudo passa.
Abdicar de qualquer extremo é viver em constante apatia. É a
impassível sensação de uma vida vazia. Comprar o pão da manhã e cear a noite.
Rodar num círculo onde nada se cria.
Ser for pra ser feliz, então que a angústia venha serena e
rasteira, que veja que tudo isso é apenas besteira, mas que não me saiam os
bons tempos da memória. Que me guiem por ela os tempos de glória.
Se for pra ser triste, então que eu agüente cada ponta. Que
eu bata contra a faca, lute, e deixe a roda toda tonta. E a torne! Para que eu
veja pra mim toda pronta, aquela cadeira estirada, e que me espere trincando,
aquela cerveja gelada.
Na escolha, na atual situação, me sinto tranqüilo em admitir
qualquer decepção. Eu sei que o dia em fim acaba e amanhã terei outra condição.
Escolho agora ser amargo. Par que nessa consternação eu possa, livre e solto,
encontrar minha afeição. Quero fazer de cada queda uma vitória e viver em
contínua, e impossível, ascensão. Por fim, é tudo, na verdade, simples
contradição...
Sou triste e sou feliz. Não interessa. Já fui feliz um dia.
E amanhã, é outro dia...